Jeizibel Alves Alvarenga
Marcela Bruschi
Omar Schneider
RESUMO
Esta investigação objetiva compreender as formas como circularam e foram apropriados (CERTEAU, 1994), temas como a higiene e a ginástica na consolidação dos modelos pedagógicos no estado do Espírito Santo entre os anos de 1908 e 1912, período de duração do governo Jerônimo Monteiro. Procura-se neste estudo deslocar o foco do sentido de influência para flagrar os usos que são feitos dos discursos, prescrições e projetos educacionais mobilizados no embate da proposta de constituição da Pedagogia Moderna em terras capixabas.
Introdução
Esta investigação é parte da pesquisa Apropriações da Pedagogia Moderna no Espírito Santo: práticas de representação e estratégias de circulação, desenvolvido no Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), dentro das propostas da pesquisa A constituição de teorias da Educação Física: o debate em periódicos no século XX.
Este trabalho busca analisar o lugar da Educação Física na reforma realizada pelo governo do Estado do Espírito Santo, durante a gestão de Jerônimo Monteiro e o Inspetor Geral de Ensino Gomes Cardim, na tentativa compreender a importância da reformas educacionais para a constituição do processo que levou a Ginástica e posteriormente a Educação Física a fazer parte do ensino oferecido nas escolas do Estado do Espírito Santo.
Metodologia
Como referencial teórico metodológico foram utilizados os estudos de Carvalho (2003) sobre a escola e a República em que busca compreender e “[…] determinar as práticas, os processos e os dispositivos constituintes da especificidade ’escolar‘ da modalidade de intervenção social que chamamos de escola moderna” (CARVALHO, 2003, p. 325) para “[…] dimensionar as condições que presidiram o processo de institucionalização do modelo escolar no Brasil” (CARVALHO, 2003, p. 325)”.
No estudo usamos o repertório conceitual de Roger Chartier (1990) principalmente a noção de representação para compreender as formas pelas qual a realidade é construída por seus atores. Como método trabalhamos com a Arqueologia dos objetos, proposta de análise que se preocupa em perceber os vestígios armazenados em diferentes suportes, relatórios, correspondências, livros, etc. que são deixados como resíduos, memórias e monumentos da cultura.
Utilizamos como fonte para este estudo os relatórios dos presidentes e vice-presidentes do Estado do Espírito Santo.
Resultados e discussões
Durante o arrolamento bibliográfico foi possível perceber que poucos estudos foram produzidos tendo como foco a História da Educação Física capixaba. Em relação ao período anterior à década de 1930 foi localizado apenas dois estudo publicados em anais de congressos[5]. Com base nas análises já realizadas sobre a historiografia Espírito-Santense procuramos investigar o período de 1908 a 1912, momento de transformações econômicas, políticas, sociais e culturais decorrentes do processo de Proclamação da República que influenciou toda a educação brasileira e também a educação capixaba, as quais sofrem reflexos de dois significativos movimentos educacionais. O entusiasmo pela escolarização e o otimismo pedagógico, que aparecem antes mesmo dos anos 20, como “[…] uma atitude que se desenvolveu nas correntes de idéias e movimentos político-sociais e que consistiam em atribuir importância cada vez maior ao tema da instrução […]” (NAGLE, 1929, p. 101).
O movimento Republicano buscava por meio da escola constituir um novo modelo de cidadão que estava pautado no modelo de vida europeu e buscava a construção de hábitos saudáveis por meio de medidas sanitaristas e higiênicas, que vão fazer parte do cotidiano da população capixaba. Tais medidas vão aparecer inicialmente na reforma de Jerônimo Monteiro, que vai apresentar uma proposta fortemente influenciada pelos ideários higienista e sanitarista, representados por medidas de saneamento Básico, como a implantação de rede de esgoto, limpeza pública e água encanada. Para Jerônimo Monteiro era necessário “Abastece-la [a cidade de Vitória] d’água, provêl-a de bom serviço de exgotto, saneal-a e crear para ella um serviço de hygiene, capaz de prevenir a irupção de qualquer epidemias ou combatel-as com sucesso[…]” (HEES; FRANCO. p. 55) constituía a mais sincera preocupação do seu governo.
A Educação Física então vai apresentar-se durante a reforma Gomes cardim como uma disciplina na qual os exercícios são realizados de forma metódica e com rigidez, com o objetivo de facilitar o aprendizado; segundo Jerônimo Monteiro a Educação Física “[…] pelos exercicios variados, intelligente e methodicamente executados, mantem sempre o seu organismo em favoravel formação” (MONTEIRO, 1910). A Ginástica utilizada na configuração da Educação Física escolar neste momento é a Ginástica Sueca que tinha por objetivo corrigir e endireitar os corpos das crianças.
Uma das características dessas aulas está no trato diferenciado dado para cada sexo, os homens faziam exercícios físicos militares e as mulheres faziam aulas de ginástica. (CARDIM, 1909). Dentro deste contexto a “Educação Physica” da época trazia a marca da configuração escolar disciplinadora almejada na época, mesmo não sendo uma disciplina ministrada no ambiente controlador e disciplinador das salas de aula.
O governo Jerônimo Monteiro terá como marca a influência militar na Educação, pois como aponta Soares (1998, p.40); “[…] ainda como inspetor de alunos, Gomes Cardim ajudava a combinar a militarização com as festas cívicas.” Durante o período que foi secretário Geral da Instrução Pública. As festas cívicas, bem como prática dos exercícios militares e ginásticos, tinham um importante papel na formação dos escolares, pois com o fim do Império e início da república ocorreu um grande fluxo imigratório para substituição nas lavouras de café da mão de obra escrava. Para o Espírito Santo vieram imigrantes Alemães, Italianos e Holandeses, Jerônimo monteiro, então acreditava ser necessária a nacionalização dos imigrantes a partir formação do sentimento cívico, do patriotismo e da nacionalidade, criados por meio da Escola com ajuda das festas cívicas.
Considerações finais
As práticas da Educação Física no Espírito Santo corporificaram neste momento o ideário que se buscava implantar no Brasil, nas primeiras três décadas do século XX. O que se oferecia era uma pedagogia moral, cívica e física que buscava modelar o cidadão republicano. Na reforma realizada por Jerônimo Monteiro e Gomes Cardim a Educação Física enquanto disciplina escolar vai auxiliar na propagação dos conceitos de higiene e sanitarismo que os republicanos buscavam divulgar na tentativa de constituir um novo cidadão, um cidadão em consonância com os ideais republicanos.
Também neste momento a Educação física/ginástica era utilizada como forma disciplinadora e com o uso da ginástica sueca também pode ser considerada como um meio de corrigir as deformidades, visando preveni as moléstias., além de ter um caráter estético e militar.
O civismo também figurou com muita força neste governo, exposto na tentativa de nacionalizar os imigrantes, na tentativa da constituição de uma nação harmônica e nas festa cívicas realizada com muita freqüência com objetivos cívicos. A militarização que aparece no governo de Monteiro se apresentará também por meio do batalhão Jerônimo monteiro, no qual crianças apareciam orientadas por um militar fardadas e portando armas de brinquedo.
Referências
Trabalho originalmente publicado em: ALVARENGA, J. A. ; Bruschi, Marcela ; Schneider, Omar . O lugar da Educação Física na reforma da instrução pública de Jerônimo Monteiro (1908-1912).. In: XI Congresso Espírito-Santense de Educação Física, 2011, Vitória. Educação Física nas Políticas Públicas: Trabalho e Gestão Integrada, 2011.